Excertos do livro “O Instituto Tavistock” por Daniel Estulin (págs. 53-56)

A operação Paperclip

Teve de haver um ponto em que os dirigentes do Governo dos EUA se identificaram com os nazis ou, pelo menos, os admiraram. Teve de chegar um momento em que os crimes do Holocausto fossem considerados distracção menor, um problema de relações públicas, que ficou eclipsado pelo glamour do grande Estado, perfeitamente dirigido, do Terceiro Reich. Teve de chegar a entender-se que as ideologias dos EUA e da Alemanha nazi se pareciam mais que as dos EUA e da União Soviética. E tem de ser assim, porque não existe outra maneira de interpretar o que sucedeu no final da guerra; do ponto de vista moral, o que se chegou a saber só pode considerar-se um crime de guerra em si mesmo.

Os artífices da política de Washington sabiam que o próximo conflito importante haveria de ter lugar entre os EUA e a União soviética. Era de suma importância que os cientistas alemães de maior nível, que trabalhavam em projectos supersecretos V-1 e V-2 e com a tecnologia das armas nucleares, se mudassem para território norte-americano, onde os russos não os podiam alcançar, e, mais importante, onde eram obrigados a prestar serviço aos EUA.

Com esse propósito puseram-se em marcha várias operações de Inteligência para tempos de guerra. A mais famosa foi a operação Paperclip. Muitas pessoas que ouviram falar de Paperclip crêem que se tratava de um programa para levar cientistas nazis para os EUA, para que eles ajudassem no programa especial. Contudo, no programa Paperclip, assim como na contratação de nazis. Houve muito mais que a ciência de foguetes espaciais. Também se contrataram médicos e especialistas nazis em guerra psicológica, e junto da organização Gehlen, espiões, assassinos e sabotadores.

A história de Paperclip é muito grande e complexa. Abarca todo o conjunto de siglas de organismos e programas de Inteligência, desde o CROWCASS (Registo Central de Crimes de Guerra e Suspeitos de Segurança) até ao CIC, ao SIS, à OSS, à CIA, à JIOA e muitos mais. Implica dezenas de países, os seus organismos de Inteligência, os seus exércitos, os seus partidos políticos, a Igreja Católica e os sistemas de justiça criminal. Quando a Paperclip terminou, uma divisão inteira das Waffen SS ucranianas, assim como milhares de cientistas nazis, muitos deles acusados de crimes de guerra e que tinham participado em algumas das piores atrocidades do conflito, tinham conseguido encontrar um lar nos EUA, na América do Sul e no Próximo Oriente.

Independentemente dos princípios morais dos cientistas alemães contratados, as experiencias atingiam outra dimensão que tinha passado praticamente inadvertida aos investigadores, devido à falta de documentação e de testemunhos vivos. As provas existentes são fundamentalmente circunstanciais, mas grande parte delas pode encontrar-se na secção de Documentos Alemães Capturados dos Arquivos Nacionais e condizem com testemunhos posteriores que aparecem em memórias e biografias dos anos da guerra e do pós-guerra.

As primeiras provas que temos de que existiu dentro do Terceiro Reich algo parecido com um programa para controlar a mente são as memórias de Wulff, o astrólogo de Himmler, que fala do desejo que os nazis tinham de conceber um programa dentro do Reich que reproduzisse o estado mental do soldado japonês, um ser humano ávido e desejoso de arriscar a vida pelo pais sem fazer perguntas, e do soldado comunista chines das “hordas humanas”, capaz de lançar-se, sem pensar, numa morte certa. Ou seja, os cientistas de Paperclip, entre eles Friedrich Hoffmann, um químico nazi que assessorou a CIA no uso de substâncias psicotrópicas de lavagem cerebral, estiveram a trabalhar em programas de controlo mental com os militares e a CIA.

Os alemães estiveram entre os primeiros a estudar o uso da guerra psicológica. Além disso, depois do conflito, a guerra psicológica misturou-se de forma inextricável com a propaganda e os comunicados, e terminou transformando-se em actos que só podem considerar-se terroristas: assassinatos, sabotagem, tortura e interrogatórios, competência do Instituto de Relações Humanas de Tavistock. A medida que a guerra psicológica se ia tornando mais sofisticada e os Serviços de Inteligência sendo cada vez mais criativos e mais exigentes, desenvolveram-se técnicas novas que se mantiveram praticamente em segredo.

Todas estas técnicas compartilham um mesmo fim ontológico: manipular a percepção do ser humano e criar uma nova realidade. Uma vez que se tinha aberto uma caixa de Pandora, já que não havia forma de fechá-la. A tentação era demasiado forte. Aqueles que queriam brincar como se fossem Deus tinham diante de si uma possibilidade: jogar com os elementos da criação, de tal forma que se realizaram transformações mágicas. À medida que deixavam de ser os eruditos de poltrona que tinham sido antes da guerra, os homens da OSS, da CIA, e da Inteligência militar supervisionados por Tavistock, evoluíram e convertiam-se em soldados que lutavam em todas as frentes da guerra fria. Transformaram-se, realmente, em mágicos. Os próprios programas de controlo mental da CIA representavam uma agressão a consciência e à realidade que não se via desde a época dos reis filosóficos e da sua corte de alquimistas.

O controlo da Mente

Ao estudar o tema do controlo da mente, descobre-se que o seu campo de aplicação é muito amplo e que os métodos empregues são complexos. As origens do controlo da mente remontam aos costumes em instituições religiosas, por parte dos sacerdotes. As técnicas de controlo mental desenvolvidas na nossa cultura ocidental foram ensaiadas no terreno por jesuítas, por certos grupos do Vaticano e por diversas religiões misteriosas, sociedades secretas e organizações maçónicas. Os métodos ensaiados durante a Inquisição foram aperfeiçoados pelo Dr. Josef Mengele durante o reinado do III Reich.

Pouco depois, voltou-se a aplicar um programa de controlo mental denominado Programação de Marionetas, importado da Alemanha nazi, que se chamou “Projecto Monarca”. O componente básico do programa consiste numa sofisticada manipulação da mente. Provoca-se um trauma extremo que conduz à “síndrome da personalidade múltipla”, conhecido actualmente como “desordem dissociativa”.

Numa declaração pública apresentada ao President’s Committee on Radiation (Comité Presidencia para a Radiação) figuram alegações assombrosas de torturas graves e programas desumanos aplicados a cidadãos norte-americanos e de outros países, sobretudo em crianças.

Este casamento do puramente psicológico com o puramente fisiológico converteu-se na pedra angular dos programas de Agencias de Inteligência concebidos para revelar os segredos da mente: a relação entre o conjunto de matéria cinzenta a que chamamos cérebro e esse grande espaço exterior a que chamamos realidade.

A Conspiração da CIA

Segundo o relatório “Avaliação dos Homens”, redigido durante o pós-guerra pela equipa de avaliação da OSS, foram o médico John Rawlings Rees e o pessoal que o Instituto Tavistock tinha destacado na Junta de Selecção do Gabinete de Guerra Britânico quem se pôs em contacto com a delegação que a OSS tinha em Londres, para sugerir que o dito organismo especial para a guerra adoptasse os métodos de selecção e formação de Tavistock. Foi Rees quem concebeu os procedimentos de “selecção” para a lavagem cerebral da OSS, e Lewin quem o ajudou a aperfeiçoa-los. Além disso, Rees, com o patrocinio da família Rockefeller, concebeu um projecto de insurgência e contra-insurgência financiado e promovido pelos EUA.

O Objectivo fundamental da direcção da CIA tem sido infiltrar-se de forma sistemática em todas as instituições importantes, num desdobrar deliberado, e aspira a apoderar-se delas de forma fascista e “quase ilegal”, com a ajuda de algumas das principais famílias dos EUA.

Muitos dos que seriam mais tarde chefes da CIA provinham de importantes famílias norte-americanas e de uma reserva infindável de banqueiros e industriais, como DuPont, Vanderbilt, Bruce, Mellon, Archbold, Morgan e Roosevelt. Quentin Roosevelt, neto de Teddy Roosevelt, por exemplo, teve um alto cargo nas Operações Especiais da OSS na China. O mesmo se passou com Raymond Guest, primo de Winston Churchill. Dois filhos de J.P Morgan, Junius e Henry S., ocuparam-se a branquear fundos da OSS e a falsificar documentos de identidade da mesma.

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